Revista Sou Enfermagem ISSN 2525-9326

AS PRÁTICAS DE ATENÇÃO À MULHER NO ATENDIMENTO AO PARTO EM UM HOSPITAL MUNICIPAL NO MUNICÍPIO DE ANAJÁS: um olhar na violência obstétrica

Jerime Rego Soares*
Elisângela da Silva Ferreira**

RESUMO

A busca pelo cuidado humanizado no parto e nascimento é uma temática de grande interesse atualmente. Com base na proposta de humanização, o desenvolvimento das boas práticas na assistência à parturição prevê atitudes e comportamentos dos trabalhadores da saúde que contribuam para reforçar o caráter de atenção à saúde como um direito de todas as mulheres. Entretanto, a realidade de muitos serviços de saúde demonstra resistência a essas recomendações, principalmente nos Centros Obstétricos, culminando em violência obstétrica, que pode ser classificada por qualquer ato exercido por profissionais da saúde no que cerne ao corpo e aos processos reprodutivos das mulheres exprimido através de uma atenção desumanizada, abuso de ações intervencionistas, medicalização e a transformação patológica dos processos de parturição fisiológicos. O presente estudo tem como objetivo descrever a prática de atenção ao parto na visão das puérperas assistidas no Hospital Municipal de Anajás, no Pará. Trata-se de um estudo descritivo, transversal, de abordagem quantitativa, realizado na clínica obstétrica do hospital sede do estudo, com puérperas de parto normal internadas por meio do preenchimento de um questionário semiestruturado com perguntas fechadas e analisados através de estatística descritiva. Observou-se que a maior parte das mulheres passaram por algum tipo de violência obstétrica durante o período parturitivo, dentre elas: falta do acompanhante, ausência de permissão e esclarecimentos sobre intervenções e procedimentos realizados e imposições na posição de parir. Conclui-se, portanto que, a manutenção de algumas intervenções e restrições, divergentes aos manuais do Ministério da Saúde sobre a assistência ao parto e nascimento, onde os protagonistas da manutenção de tais práticas, em sua grande maioria, são pertencentes à equipe de enfermagem. No entanto, foram encontradas respostas positivas entre as mulheres a respeito do sentimento no pós-parto.

Palavras-chaves: Violência obstétrica. Assistência ao parto. Profissionais de Saúde. Política de humanização.

*Graduando da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal do Pará
**Orientadora Profª. MSc. Elisângela da Silva Ferreira

ABSTRACT

The search for humanized care in childbirth and birth is a subject of great interest today. Based on the proposal of humanization, the development of good practices in parturition care foresees the attitudes and behaviors of health workers that contribute to strengthening the character of health care as a right of all women. However, the reality of many health services demonstrates resistance to these recommendations, especially in obstetric centers, culminating in obstetric violence, which can be classified by any act performed by health professionals in what refers to the body and the reproductive processes of women expressed through of dehumanized attention, abuse of interventionist actions, medicalization and the pathological transformation of physiological parturition processes. The present study aims to describe the practice of attention to childbirth in the view of puerperal assistants at the Municipal Hospital of Anajás, Pará. This is a descriptive, cross-sectional study of a quantitative approach performed at the obstetric clinic of the host hospital of the study , with normal puerperal deliveries hospitalized through the filling of a semi-structured questionnaire with closed questions and analyzed through descriptive statistics. It was observed that the majority of women experienced some type of obstetric violence during the parturition period, among them: absence of the companion, absence of permission and clarifications on interventions and procedures performed and impositions in the position of giving birth. It is concluded, therefore, that the maintenance of some interventions and restrictions, divergent to the manuals of the Ministry of Health on the delivery and birth care, where the protagonists of the maintenance of such practices, for the most part, belong to the nursing team . However, positive responses were found among women regarding postpartum feeling.

Key-words: Obstetric violence. Delivery assistance. Health professionals. Humanization policy.

REFERÊNCIAS

A BIBLIA. Genesis. c. 3, v. 16. Bíblia online. Disponível em:<https://www.bibliaonline.
com.br/acf/gn/3>. Acesso em: 17/11/2017.
AGUIAR, J. M. de; OLIVEIRA, A. F. P. L. de. Violência institucional em maternidades públicas sob a ótica das usuárias. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, UNESP, v. 15, n. 36, p. 79 – 92, 03 2011. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S141432832011000100007&lng=en&nrm=iso>.
ALVES, F.; SANTOS, J. A assistência humanizada da enfermagem durante o trabalho de parto e parto no serviço de maternidade do Hospital Regional João Morais. 2017. Dissertação (Mestrado).
ANDRADE, B. P.; AGGIO, C. de M. Violência obstétrica: a dor que cala. ANAIS DO III SIMPÓSIO GÊNERO E POLÍTICAS PÚBLICAS, p. 1 – 7, 2014.
BARROS, A. J. D. et al. Coorte de nascimentos de Pelotas, 2004: metodologia e descrição. Revista de Saúde Pública, Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, v. 40, n. 3, p. 402 – 413, 06 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003489102006000300007&lng=en&nrm=iso.
BRASIL. Diário Oficial Da União. Conselho Nacional de Saúde. Resolução 466 de 12 de dezembro de 2012. Publicada no DOU nº 12 – quinta-feira, 13 de junho de 2013 – Seção 1 – Página 59. 2013b. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf. Acesso em 20/10/2017.
CAMPOS, A. S.; ALMEIDA, A. C. C. H. de; SANTOS, R. P. dos. Crenças, mitos e tabus de gestantes acerca do parto normal. Revista de Enfermagem da UFSM, v. 4, n. 2, p. 332 – 341, 2014.
CARVALHO, G. M. de. Enfermagem em obstetrícia. In: 3. ed. São Paulo: epu, 2007.
CECATTI, J. G.; CALDERÓN, I. de M. P. Intervenções benéficas durante o parto para a prevenção da mortalidade materna. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia, v. 27, n. 6, p. 357 – 365, 06 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S010072032005000600011&lng=en&nrm=iso>.
CESAR, J. A. et al. Público versus privado: avaliando a assistência à gestação e ao parto no extremo sul do Brasil. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira, v. 11, n. 3, p. 257 – 263, 09 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151938292 011000300006&lng=en&nrm=iso>.
CIELLO, C. et al. Dossiê da Violência Obstétrica “Parirás com dor”. Parto do Princípio – Mulheres em Rede pela Maternidade Ativa, Brasília, p. 1 – 188, 2012.
COFEN. Decreto Nº 94.406/87. Dispõe sobre o exercício da Enfermagem, e dá outras providências. 1987. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/decreto-n944068 7_4173.html>. Acesso em: 11/11/2017.
COFEN. Resolução COFEN Nº 0516/2016. Normatiza a atuação e a responsabilidade do Enfermeiro, Enfermeiro Obstetra e Obstetriz na assistência às gestantes, parturientes, puérperas e recém-nascidos nos Serviços de Obstetrícia, Centros de Parto Normal e/ou Casas de Parto e outros locais onde ocorra essa assistência. 2016. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no 0516
2016_41989.html>. Acesso em: 11/11/2017.

CORTES, C. T. et al. Implementação das práticas baseadas em evidências na assistência ao parto normal. Seminário Internacional em Saúde do Adulto, v. 1, n. 2017-, 2017.
CUNHA, E. Violência no parto em Minas Gerais: denúncia à Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Belo Horizonte, 2012.
D’OLIVEIRA, A. F. P. F; DINIZ, C. S. G; SCHRAIBER, L. B. Violence Against women in health – care institutions: an emerging problem. Lancet, v. 359, n. 11, p. 1681- 1685, 2002
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Violência obstétrica: você sabe o que é? São Paulo, 2013. Disponível em: <https://www.defensoria.sp.def.br/
dpesp/repositorio/41/ViolenciaObstetrica.pdf>. Acesso em: 05/11/2017.
DIAS, M. A. B.; DOMINGUES, R. et al. Desafios na implantação de uma política de humanização da assistência hospitalar ao parto. Ciênc saúde coletiva, SciELO Public Health, v. 10, n. 3, p. 669 – 705, 2005.
DINIZ, S. G. et al. Abuse and disrespect in childbirth care as a public health issue in Brazil: origins, definitions, impacts on maternal health, and proposals for its prevention. Journal of Human Growth and Development, scielopepsic, v. 25, p. 377 – 384, 00 2015. ISSN 0104-1282. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S010412822015000300019&nrm=iso>.
Dossiê da Violência Obstétrica. “Parirás com dor”.Parto do Princípio – Mulheres em Rede pela Maternidade Ativa, 2012
DOTTO, L. M. G. et al. Desempenho das competências obstétricas na admissão e evolução do trabalho de parto: atuação do profissional de saúde. Escola Anna Nery, SciELO Brasil, v. 12, n. 4, p. 717 – 725, 2008.
FIGUEIREDO, G. da S. et al. Ocorrência de episiotomia em partos acompanhados por enfermeiros obstetras em ambiente hospitalar. Rev. enferm. UERJ, p. 181 – 185, 2011.
GALLO, R. B. S. et al. Recursos não-farmacológicos no trabalho de parto: protocolo assistencial. Feminina, v. 39, n. 1, p. 41 – 48, 2011.
GAMA, A. de S. et al. Representações e experiências das mulheres sobre a assistência ao parto vaginal e cesárea em maternidades pública e privada. Cadernos de Saúde Pública, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, v. 25, n. 11, p. 2480 – 2488, 11 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102311X2009001100017&lng=en&nrm=iso>.
GONÇALVES, M. L. C. et al. Perfil sociodemográfico e obstétrico de puérperas assistidas no município de Iguatu-CE. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, Universidade de Fortaleza, v. 25, n. 2, 2012.
HOSPITAL MUNICIPAL DE ANAJÁS. Livro de Notificação de Parto. Anajás, 2009–2016.
LEAL, M. do C.; GAMA, S. G. N. da. Nascer no Brasil: inquérito nacional sobre parto e nascimento. Rio de Janeiro: ENSP/Fiocruz, 2014.
LEAL, M. do C. et al. Intervenções obstétricas durante o trabalho de parto e parto em mulheres brasileiras de risco habitual. Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, 2014.
MACEDO, T. S. B. D. MACEDO, Thaís Scuissiatto Borges de. Na sala de parto: a necessidade de uma reportagem sobre violência obstétrica. 2015. 50 p. Monografia (jornalismo)—Universidade Federal do Paraná, curitiba. Disponível em: <http://calvados.c3sl.ufpr.br/bitstream/handle/1884/43475/TCC-I-Na-sala-departo.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 05/11/2017.

[pdf-embedder url=”https://revista.souenfermagem.com.br/wp-content/uploads/2019/07/Revista-Sou-Enfermagem-São-Luís-022-51-97-abril-junho-2018-1.pdf” title=”Revista-Sou-Enfermagem-São-Luís-02(2)-51-97-abril-junho-2018″]